segunda-feira, 8 de julho de 2013

reflexos de azul



O mar tem-me acompanhado, de uma forma ou de outra, ao longo de toda a vida, sendo que essa ligação se tem aprofundado mais fortemente nos últimos 25 anos. É muito tempo. Hoje em dia é algo que está de tal forma entranhado em mim, que o corpo responde aos estímulos do mar como algo fisiológico, já não exterior ao próprio corpo. Não é só na pele que o sal e o sol deixam marcas. É uma vida moldada, para o bem e para o mal, em torno das ondas e do prazer que se tira do aparentemente simples facto de deslizar sobre água em movimento. Muita coisa ganhei, e muitas outras perdi por viver esta obsessão. E é esse o centro da questão. As ondas, o surf e os seus rituais tomam um lugar de tal forma central na vida de alguns de nós, que nos esquecemos frequentementede que há algo mais. Há uns anos atrás, quando se tinha a sensação de que o tempo não acaba e que tudo é possível, não havia preocupações com mais nada. Mas, agora, quando sem saber bem como, já passaram estes anos todos e nos deparamos com a complexidade real das coisas, surge como um facto indesmentível que a vida é muito mais para além do surf. Bem entendido que, para um “corredor de vagas” de alma, a vida sem ondas não seria exactamente vida. Porém, nesta fase, encaro o surf como uma peça essencial que complementa o resto que compõe o todo complexo que entendemos como “vida”.

Há quem passe pela vida sem nunca descobrir esse algo a que se agarrar, algo que, em momentos altos, nos dá a real sensação de ser para “aquilo” que vale a pena estar vivo. Mas esses momentos podem perder toda a força e magia se as tais outras partes do todo não estiverem no sítio. E é por isso que convém não perder a noção das realidades e procurar investir o tempo que se possa naquilo que julgamos de igual modo essencial para a nossa sanidade; seja o trabalho que fazemos (que nos realiza), sejam a família e os amigos (que nos ajudam), seja aquela pessoa especial que, todos sabemos, torna tudo mais fácil de suportar. Não é simples dosear racionalmente a importância de cada um destes factores no quotidiano, mas a verdade é que nunca nos deram um manual de instruções quando nascemos para saber como proceder. Assim, as escolhas são nossas, e se é no mar que nos sentimos realmente vivos, no mais verdadeiro sentido do termo, que seja então ele o elemento central da nossa existência. Há quem tenha uma abordagem diferente do surf e das ondas, e os veja como uma forma apenas de passar o tempo, como seria dar uma volta de bicicleta ou jogar uma partida de ténis; não posso no entanto condenar quem o faz, pois talvez essas pessoas tenham na vida algo que as mova e lhes dê a mesma força e motivação que a nós dá o mar. No fundo, não somos donos da verdade para poder julgar quem não age da mesma forma. O objectivo, no fim de contas, é conseguir equilibrar o tal “todo”, e se uns precisam de doses maiores disto ou daquilo, então que assim seja. Desde que a melhor do set sobre para mim...    

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