sexta-feira, 19 de abril de 2024

...do sol de Ipanema








Ouvindo, e vendo, um concerto de James Taylor gravado em 1970, dei por mim com aquela sensação cada vez mais recorrente de sentir que o tempo realmente passa. Não só por aqueles em quem vemos as marcas do tempo, mas por nós mesmos, onde as marcas do tempo demoram, aparentemente, mais a chegar. Na verdade, porque nós somos o Outro.

Entre aquela voz fantástica e o dedilhar inebriante na guitarra, apercebo-me que hoje ele é um velho senhor, com uma vida cheia, cheia de memórias, de momentos maravilhosos e outros naturalmente menos bons. Mas a vida é isso mesmo, a procura permamente por um equilíbrio constante. E ali, tão jovem e cheio de vida, ele é a imagem perfeita de uma eterna juventude que todos sentimos ter, cada um de nós convencido dessa mesma eternidade. Até um dia... 

E é nisso que penso, quando penso que continuo a construir memórias, memórias de momentos vividos tão só na vontade de viver esses momentos, de deixar o tempo ditar aquilo que será, instante após instante, dia após dia. Sem medo, de peito aberto e espírito livre. E esses momentos ficam, marcam, ganham raízes em nós e connosco seguem vida fora, parte de nós mesmos, que no fundo somos apenas a soma de todas essas memórias.

Estes últimos meses revelaram-se para mim um abrir de horizontes, abrindo o olhar para um mundo que se deixou ver muito para lá daquilo que eram os limites da percepção da vida que tinha até então. Sinto que muito daquilo que pensava passado pode ser afinal presente, e que o futuro só depende de nós, da ilusão com que encaramos cada dia, resgatando a juventude e a vontade de viver a cada passo, bebendo essa energia que cada momento e cada pessoa especial nos passa, como um elixir mágico que nos rejuvenesce e nos dá alento para olhar para o céu azul, vibrar de energia e querer gritar que a vida é realmente um milagre maravilhoso. Sem no entanto renunciar àquilo que somos, à carga que trazemos da vida que está para trás. É que por vezes basta um encontro, uma troca de palavras e de emoções para que a nossa percepção de tudo ganhe outra dimensão e nos leve a lugares com que nunca sonhámos. 

Sei que escrevo estas palavras a pensar em alguém que me fez ver mais além, que me ensinou, e ensina, a viver, a querer tirar da vida todo o sumo que ela tem; não somos, nem eu nem ela, pessoas perfeitas, mas é exactamente aí que a coisa se torna interessante. E só posso sentir uma gratidão sem tamanho por tudo o que ela me trouxe: vida, vontade de viver, de sonhar, de descobrir, de querer mais e ir mais além, consciente da maravilha que é a vida.

Um dia, tal como o James Taylor, vou olhar para trás e pensar: que vida maravilhosa esta...

Obrigado, moça do corpo dourado.