quarta-feira, 20 de outubro de 2010

o trigo e o joio

Não há nada como o passar dos anos para deixar bem claro, à vista de todos, aquilo que tem ou não qualidade para ser considerado icónico. E este é um dos objectos de culto que mais merece esse estatuto enquanto genial peça de desenho, uma criação ímpar nascida numa altura particularmente difícil do séc. XX. Os automóveis de desejo de hoje em dia nada mais são que amálgamas de engenharia avançada embrulhada numa imagem da moda que, à nascença, já têm preparados os seus sucessores nos ateliers de desenho das marcas. Hoje cria-se com data de validade. O genuíno já não se faz.

open mind

uma bela colecção...
Ilustrando um pouco mais o que anteriormente tinha escrito sobre as alternativas aos materiais que progressivamente se foram tornando comuns na construção de pranchas de Surf, eis aqui o exemplo de alguém que, graças a uma visão abrangente e sem preconceitos do Mundo, conseguiu criar (ou re-criar) um modo de viver e sentir o acto de correr ondas como poucos algum dia conseguirão. Tom Weggener. O Surf como fonte de inspiração  e de vida. Vale a pena conhecer.

hands on approach

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Beleza pura. O Automóvel como nunca mais voltará a ser.

back to the meaning...

Várias são as ocasiões em que é invocada a evolução dos materiais e da sua qualidade como argumento aparentemente à prova de bala para defender a indústria e o negócio  de milhões em que se tornou o Surf, com as revistas e os campeonatos como os flautistas de Hamelin  que levam atrás de si a multidão de olhos fechados. Dirão alguns que, graças a isso, temos cada vez melhores pranchas. É verdade. Fatos cada vez mais leves e quentes? De acordo. E se nunca ninguém se tivesse lembrado de criar essas marcas tão desejadas? Se o Surf se visse reduzido ao acto de correr ondas ao invés de fazer parte de um pacote em que o "estar na água" se torna muitas vezes secundário? Talvez seja isso que deveria voltar a ser, no fundo. Todo o suposto glamour, todo o hype mediático em torno dos "ídolos" das massas não traz nada de relevante ou positivo para o comum dos surfistas, que apenas quer chegar à praia e sair da água mais feliz e relaxado do que entrou. Quantas vezes não sucede o oposto...
No fundo, se a indústria do Surf desaparecesse da Terra, tal como sucedeu com os dinossauros, nenhum mal daí viria ao mundo, bem pelo contrário (pobres dinossauros...). Essa mesma indústria cresceu através da vontade e do entusiasmo inocente e irresponsável de uns quantos que não tiveram a capacidade de prever o estrago que iriam causar àquilo que tanto prezavam. Se no princípio o companheirismo ditava a lei, hoje o individualismo impera, inevitável em praias cada vez mais cheias de seguidores da Indústria (não confundir com seguidores de Ondas).
Se nos víssemos num mundo sem pranchas, sem blocos de poliuretano para as fabricar, num mundo sem fatos de última geração, o que sucederia? Punha-se tudo a correr às voltas com as mãos na cabeça sem saber o que fazer, provavelmente. No momento em que o Surf perdesse o glamour e o estatuto de que ainda goza, muitos desertariam, para bem de todos quantos realmente o vivem com devoção.
Pranchas? Porque não a balsa? Porque não a madeira? Obviamente que será muito mais caro, mas quem irá olhar ao custo quando o benefício é tão maior? E porque não meter mãos à obra e criarmos nós próprios os nossos veículos de prazer? Fatos isotérmicos? Porque não os de mergulho? Menos confortáveis, é certo, mas igualmente quentes e é essa a finalidade, no fundo.
Qual seria o real impacto se o mundo do Surf se reduzisse à sua essência, um mundo sem adornos, sem cores apelativas, sem novas versões de tudo a sair ao ritmo das estações da moda? Sem competições, sem negociatas paralelas, sem revistas que só existem para inflamar egos e criar necessidades aos incautos e pobres de espírito. Ficaria apenas e só a vontade de pegar num objecto e deslizar em cima de água. Porque é disso que se trata.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

quando se faziam carros como devia ser...



Este é o Austin 1300 GT, um carro criado numa época em que o design não queria ser Design, em que o espírito criativo ainda tinha muito para onde se expandir no que toca ao desenho de automóveis, em que cada criação assumia ser radicalmente diferente das outras. Este é apenas um exemplo que tive o prazer de conhecer de perto.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

losing my religion

Como um cronista relativamente conhecido disse recentemente, "O surf competitivo faz tanto sentido como o yoga competitivo." Esse cronista foi declarado, aliás sem surpresa, persona non grata no meio, o que só reforça a ideia da realidade existente que eu, como outros, temos; a de que algo que partiu de um divertimento, associado rapidamente a um modo de ser e de estar, quase religioso, tenha sido subvertido como mero veículo propagandístico com finalidades quer comerciais quer de auto-promoção de gente sem carácter.
Não é não falando, não chamando os bois pelos nomes, que se consegue algo. Ainda que sinta que é uma luta perdida, prefiro ficar do lado dos que renegam esse mundo que "juntar-me a eles."
Seria demasiado fácil associar-me ao cortejo, mas quando se vê o "deslizar nas ondas", ou como diz um amigo meu, "o correr vagas" de um modo tão forte, tão intenso e absorvente, não o podemos fazer senão sob o signo do desprendimento e do puro prazer desinteressado.
"Those days are gone"
Vários são os que quiseram, noutras gerações, ver a sociedade reconhecer o Surf como algo digno e sério, sendo que hoje em dia, muitos desses reconhecem o erro que foi essa atitude. Foi o princípio do fim do Surf enquanto actividade espiritual, porque hoje, cada vez mais, se transformou em guerra de egos e disputas territoriais nas praias do mundo inteiro.

olhando para o outono a pensar que ainda é verão

Pois é... Não tarda chega o mês número 11, quando aqui por estes lados ainda parece que se está em pleno Verão. A calma voltou, a luz já é outra, o Sol afastou-se mais para Sul; na verdade a Luz faz toda a diferença. E com ela, toda a quantidade de sensações que vêm à ideia com esta altura do ano. O ar está mais fresco, mais fino, mais leve. Vive-se a sensação de algo que está para acontecer, e mesmo que não aconteça já, sabe-se que mais cedo ou mais tarde, qualquer coisa de especial se há de passar.
Olhando para o mar riscado de linhas de ondulação, com umas côres só possíveis noutras paragens com uns óculos escuros de lentes polarizadas, penso se a antecipação dos bons momentos, das ocasiões especiais, não será já parte desses momentos. Vendo essas linhas de ondulação, energia pura a marchar para terra, com os azuis e verdes a misturar-se com o branco da areia e os reflexos do Sol na água, tudo isto bem composto por um vento de terra, quase que arrepia pensar naquilo que pode ser, mesmo que agora não passe de uma promessa. Essa pura energia carrega as baterias de quem vive imerso num mundo que pode parecer estranho, mas que é tão somente o mundo de quem sabe que encontrou algo que faz ter a plena consciência que vale a pena estar vivo.
Melhor que toda essa conversa, é quando essa antecipação e esse "sonhar acordado" se vêem transformados em realidade, tendo a lucidez para nos darmos conta de que ESSE momento é AQUELE momento. Que, afinal, aquela antecipação tem razão de ser porque esses instantes o justificam. É o sentir toda essa energia transferida para dentro de nós, em momentos de puro e extremo conforto, como se estivéssemos iluminados por dentro. Nestas alturas não vale a pena pensar em dúvidas existenciais, porque estamos cá, o que somos, para onde vamos... Aquela energia leva-nos para onde queremos ir, e o estar ali é tudo. O mar, o ar livre, o céu, o vento. Não é preciso mais.
Receita: água, sal, areia ou pedra, vento de terra q.b., sol, companhia pouca mas boa e como consequência, sorrisos rasgados para toda a gente.