terça-feira, 19 de outubro de 2010

back to the meaning...

Várias são as ocasiões em que é invocada a evolução dos materiais e da sua qualidade como argumento aparentemente à prova de bala para defender a indústria e o negócio  de milhões em que se tornou o Surf, com as revistas e os campeonatos como os flautistas de Hamelin  que levam atrás de si a multidão de olhos fechados. Dirão alguns que, graças a isso, temos cada vez melhores pranchas. É verdade. Fatos cada vez mais leves e quentes? De acordo. E se nunca ninguém se tivesse lembrado de criar essas marcas tão desejadas? Se o Surf se visse reduzido ao acto de correr ondas ao invés de fazer parte de um pacote em que o "estar na água" se torna muitas vezes secundário? Talvez seja isso que deveria voltar a ser, no fundo. Todo o suposto glamour, todo o hype mediático em torno dos "ídolos" das massas não traz nada de relevante ou positivo para o comum dos surfistas, que apenas quer chegar à praia e sair da água mais feliz e relaxado do que entrou. Quantas vezes não sucede o oposto...
No fundo, se a indústria do Surf desaparecesse da Terra, tal como sucedeu com os dinossauros, nenhum mal daí viria ao mundo, bem pelo contrário (pobres dinossauros...). Essa mesma indústria cresceu através da vontade e do entusiasmo inocente e irresponsável de uns quantos que não tiveram a capacidade de prever o estrago que iriam causar àquilo que tanto prezavam. Se no princípio o companheirismo ditava a lei, hoje o individualismo impera, inevitável em praias cada vez mais cheias de seguidores da Indústria (não confundir com seguidores de Ondas).
Se nos víssemos num mundo sem pranchas, sem blocos de poliuretano para as fabricar, num mundo sem fatos de última geração, o que sucederia? Punha-se tudo a correr às voltas com as mãos na cabeça sem saber o que fazer, provavelmente. No momento em que o Surf perdesse o glamour e o estatuto de que ainda goza, muitos desertariam, para bem de todos quantos realmente o vivem com devoção.
Pranchas? Porque não a balsa? Porque não a madeira? Obviamente que será muito mais caro, mas quem irá olhar ao custo quando o benefício é tão maior? E porque não meter mãos à obra e criarmos nós próprios os nossos veículos de prazer? Fatos isotérmicos? Porque não os de mergulho? Menos confortáveis, é certo, mas igualmente quentes e é essa a finalidade, no fundo.
Qual seria o real impacto se o mundo do Surf se reduzisse à sua essência, um mundo sem adornos, sem cores apelativas, sem novas versões de tudo a sair ao ritmo das estações da moda? Sem competições, sem negociatas paralelas, sem revistas que só existem para inflamar egos e criar necessidades aos incautos e pobres de espírito. Ficaria apenas e só a vontade de pegar num objecto e deslizar em cima de água. Porque é disso que se trata.

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