sexta-feira, 2 de maio de 2014

a duas décadas de distância



 








Pode parecer que não passou muito tempo desde esse triste primeiro de Maio, mas vinte anos são muitos anos. E a morte de Senna está já à distância desses vinte anos. Assim como já se passaram mais de vinte anos sobre as grandes conquistas de outro grande do desporto mundial, Tom Curren.



Ocorre-me referir este paralelo pelas semelhanças entre os dois: ambos tiveram carreiras em simultâneo, ambos atingiram o pico na mesma época, tinham aquela faceta de génios foras-de-série, bem como esse lado introspectivo, misterioso que não fazia mais que esconder uma certa introversão própria de quem vive no seu interior uma luta constante para se superar. E isso sempre veio em primeiro lugar na vida de cada um. Talvez tenham sido incompreendidos por isso, vistos como arrogantes, sentindo-se acima do comum mortal, mas o fogo interior que os guiava fazia na verdade com que pairassem acima de todos nós, vivendo numa abstracção nirvânica e num êxtase únicos quando em alta velocidade desenhavam as suas trajectórias. Génios.



Perfeccionistas, mestres do estilo e da arte de deslizar. Mesmo sobre água, Senna era um Curren que não deixava a sua máquina sair do caminho traçado. Curva após curva, aceleração sobre travagem, ambos levaram aos limites a pureza e a beleza de dois desportos aparentemente tão distintos, aproximando-os e aproximando-se como ícones, mitos para todos aqueles que apreciamos a verdadeira essência da estética no desporto.



Ayrton Senna e Tom Curren. Qualquer surfista que tenha vivido os anos de ouro de Senna, ou seja, toda a sua carreira, compreende a comparação.

Felizmente, Curren continua a encantar-nos com a souplesse das linhas do seu surf; Senna continua provavelmente com o pé no fundo, dentro daquele capacete verde-amarelo.