sexta-feira, 12 de julho de 2013

paradise [almost] lost



Muitas vezes nos interrogamos porque é que haverá tanta falta de entendimento, tanta discórdia, tanta má vontade e tanto ódio entre tanta gente. Obviamente que as razões são inúmeras, e não se acrescentaria nada de novo pelo facto de as tentar exaustivamente enumerar.
O interessante é que, quando se procuram respostas para essas questões, não só no que toca a relacionamentos individuais, mas sobretudo nas grandes questões da chamada Humanidade, reflecte-se (e sempre se reflectiu) com base no Homem como centro de todo o pensamento. Galileu, em tempos, tentou mostrar que a Terra não era o centro do Universo, e teve sérios problemas com isso. O Homem dito moderno torna a cair, vezes sem conta, num erro semelhante.

O Homem, hoje e ao longo da sua existência como tal no Planeta Terra, define estratégias, cria linhas de pensamento filosófico, modelos de organização de sociedade, organiza-se segundo regras que visam incluir todos, isto numa sociedade dita avançada, supostamente democrática, com vista a um bem estar geral que se reflicta por consequência no bem estar do indivíduo. Mas, em quantas dessas visões do Mundo houve, ou há, lugar para uma reflexão onde caiba, com o mesmo peso, tudo o resto que compõe o Mundo? Na Terra, o Homem não passa, na prática, de mais uma dos milhares de espécies que, simplesmente, teve a sorte de evoluir num sentido que lhe permitiu, progressivamente, dominar o meio circundante, levando-o a crer ser o eleito para governar o Planeta. Esta consciência de ente superior, privilegiado, enraizou-se de tal forma, que hoje o Homem se tem por Deus. E é esta premissa que está erradamente presente no pensamento da esmagadora maioria dos seres pensantes, ditos racionais. Quem nos concedeu o direito, enquanto espécie animal procedente de uma origem comum a todas as outras formas de vida, de ditar o destino de tudo aquilo que nos circunda? Os humanos vivem imersos em reflexões sobre o modo de resolução dos problemas que lhes são próximos, no imediato, descurando o longo prazo e a sua própria subsistência enquanto espécie. O tempo de existência da espécie humana em cima da Terra é um facto recente à escala do que é a vida animal e vegetal, que conta com larguíssimos milhões de anos. E concerteza desapareceremos a breve trecho naquilo que é a escala de tempo geológica.
No fundo, somos apenas animais, com uma vida limitada, com reacções químicas mais evoluídas a nível cerebral que nos permitem desenvolver raciocínios complexos. E que nos deviam permitir compreender a nossa falibilidade e irrelevância. Tão irrelevantes como a Terra o é na vastidão do Universo, algo para lá da nossa capacidade de compreensão de seres inteligentes.
Ora, se o que se diz ser a nossa marca distintiva é a capacidade de raciocínio, porque não fazer uso dela para tentar perceber que temos que tentar fazer parte, e não controlar, dominar, extinguir, esgotar recursos? Um excelente exemplo da tacanhez humana é o conceito de vida inteligente no Universo. Porque é que a vida inteligente há de ter que ser fisicamente semelhante ao humano? Porque o humano não consegue deixar de se ver como um ser que paira num nível superior. Compare-se, como reflexão, dois planetas Terra, tendo evoluído paralelamente, sendo que um nunca teria tido a presença humana. Como seria uma Terra assim? Um paraíso intocado? Certamente...

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