Ao fundo, na direcção do Oceano, duas enormes colunas metálicas, vermelhas,
erguiam-se no meio do rio, recordando feitos de tempos idos. Agora, apenas se
ouvia o vento e um ou outro pássaro que passava, chilreando. Montes de
ferrugem, imóveis, aqui e ali, faziam lembrar as imagens que o Tomé vira nos
livros daqueles estranhos veículos amarelos que deslizavam sobre linhas
metálicas, enquanto, no centro da praça, a figura outrora imponente de um rei a
cavalo se cobria de vegetação, dando-lhe um ar muito menos austero, até
simpático, agora refúgio da passarada. As arcadas nos edifícios em redor estavam
agora cobertas de flores púrpura e amarelas, das buganvílias que se tinham
assenhoreado do lugar.
Olhando em volta, decidiram subir por ali acima até ao ponto mais alto, que
visto desde cá de baixo, se assemelhava a um pequeno bosque, repleto de grandes
árvores, empoleiradas em imponentes muros de pedra.
Pelo caminho, marcado pelas linhas metálicas ondulantes, edifícios
silenciosos, imponentes templos religiosos, em ruínas, tomados pela vegetação,
contrastavam com a alegria do vôo aparentemente desordenado e alegre das
andorinhas que, mais uma vez, marcavam o ritmo da vida e davam uma nota de
normalidade à outrora grande metrópole.
Chegados ao cimo, no meio do silêncio das muralhas e do calor do sol de
Maio, apareceram, como um oásis no meio da desolação, um pequeno pomar e uma
pequena horta, sobreviventes graças a uma nascente que surgira com um dos
terramotos de há uns anos. Nunca o Tomé tinha visto tamanha abundância, fugido
que vinha das terras quentes e inóspitas do sul. O pai do Tomé pôs mãos à obra,
construindo naquele lugar com vista sobre aquele rio magnífico, com o mar ao
longe, aquela que se veio a tornar a sua casa, o seu refúgio, um lugar onde os sonhos voltavam a ser
possíveis.
Aqui, onde um dia Lisboa foi fundada, recomeçava agora um novo ciclo, uma
nova vida de esperança, de alegria, onde o sonho se podia tornar mais que isso.
Um lugar onde o Tomé pôde pela primeira vez ser criança, com uma cidade, um mundo
inteiro, para viver e descobrir.
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