Várias são as ocasiões em que é invocada a evolução dos materiais e da sua qualidade como argumento aparentemente à prova de bala para defender a indústria e o negócio de milhões em que se tornou o Surf, com as revistas e os campeonatos como os flautistas de Hamelin que levam atrás de si a multidão de olhos fechados. Dirão alguns que, graças a isso, temos cada vez melhores pranchas. É verdade. Fatos cada vez mais leves e quentes? De acordo. E se nunca ninguém se tivesse lembrado de criar essas marcas tão desejadas? Se o Surf se visse reduzido ao acto de correr ondas ao invés de fazer parte de um pacote em que o "estar na água" se torna muitas vezes secundário? Talvez seja isso que deveria voltar a ser, no fundo. Todo o suposto glamour, todo o hype mediático em torno dos "ídolos" das massas não traz nada de relevante ou positivo para o comum dos surfistas, que apenas quer chegar à praia e sair da água mais feliz e relaxado do que entrou. Quantas vezes não sucede o oposto...
No fundo, se a indústria do Surf desaparecesse da Terra, tal como sucedeu com os dinossauros, nenhum mal daí viria ao mundo, bem pelo contrário (pobres dinossauros...). Essa mesma indústria cresceu através da vontade e do entusiasmo inocente e irresponsável de uns quantos que não tiveram a capacidade de prever o estrago que iriam causar àquilo que tanto prezavam. Se no princípio o companheirismo ditava a lei, hoje o individualismo impera, inevitável em praias cada vez mais cheias de seguidores da Indústria (não confundir com seguidores de Ondas).


Qual seria o real impacto se o mundo do Surf se reduzisse à sua essência, um mundo sem adornos, sem cores apelativas, sem novas versões de tudo a sair ao ritmo das estações da moda? Sem competições, sem negociatas paralelas, sem revistas que só existem para inflamar egos e criar necessidades aos incautos e pobres de espírito. Ficaria apenas e só a vontade de pegar num objecto e deslizar em cima de água. Porque é disso que se trata.
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