Já muitas vezes falei, escrevi ou dissertei sobre isto, mas o prazer da antecipação é com frequência mais forte que o momento desejado, quando este finalmente chega.
Mas há dias em que... bem, há dias em que aquilo que é antecipado se vê superado por algo nunca esperado.
Em que o antecipado se vê ultrapassado pelo sonho, o sonho julgado impossibilidade, agora de surpresa tornado realidade. Algo que na verdade sempre tivemos como apenas matéria de devaneios, de ideais irrealizáveis, de sonhos loucos, está agora diante dos olhos, em pleno Agosto algarvio, água morna, céu azul, o vento quase ausente...
Semanas, dias, noites de espera, de uma preparação inconscientemente consciente para uma desilusão desembocam afinal de contas na perfeição de um momento a que pouco ou nada há a acrescentar.
Linhas e linhas de ondas que galgaram a vastidão do Atlântico até ganharem as baixas profundidades deste lugar mágico, que mais mágico se tornou nesses dois dias, e sobretudo no dia que poucos esperavam ser "O DIA".
E essas linhas, como linhas de veludo côtelé, marcharam, séries delas atrás de séries delas, para se transformarem em pistas aquáticas de um prazer sem nome numa praia que, para mim, é desde sempre a minha casa: o meu lugar de refúgio e conforto.
Esse 27 de Agosto de 2025 fica na memória, não só de todos os que como eu dele tiraram todo o sumo, deslizando até à exaustão absoluta naquelas ondas maravilhosamente perfeitas, quentes e envolventes, como também nas memórias de todos os que talvez pela primeira vez assistiram ao fenómeno raro mas sempre maravilhoso de uma ondulação de mar de fora a deslizar praia fora, num misto de serenidade, beleza e encantamento.
Recomeça agora a espera. Porque sei, sabemos, que um dia um momento desses regressa. E a magia será a mesma. Para isso vivemos.